Um lavagante sem nome.
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Um lavagante sem nome.

O cenário
Sei o que devem estar a pensar. Lagosta? Lavagante? Sim. É lavagante. Em todo o seu esplendor. Um dos exemplos do marisco português que é de extrema qualidade na nossa costa. E é daqueles ingredientes que não se deve inventar muito para o confeccionar. Basta seguir o que diz a lei. A certeza que ficará bom é imediata. Aqui vem a história de um Lavagante. Clássico. 

Este foi um workshop conduzido pelo Nuno Diniz. Já o disse num post anterior. O Nuno é para mim uma das pessoas mais simpáticas e com vontade de partilhar o conhecimento que eu encontrei por cá. O convite partiu da Ivo Cutelarias. Uma marca pela qual eu tenho alguma simpatia e não me vou cansar de promover os seus produtos: São portugueses e fazem facas óptimas. Estava então dado o mote. Boas facas e um grande Chef. Coisas que eu aprecio dentro de uma cozinha.

Ter uma boa faca abre um caminho novo. Começamos a ter mais vontade de arriscar em pratos que tenham cortes mais complicados. O que fizemos no workshop é um clássico da cozinha francesa. Necessitávamos de dar sabor ao lavagante. Alho francês, Cenoura, Cebolas, Chalotas e Aipo. Lá estava um mirepoix como manda a tradição. E o sabor.

Deixa-se cozinhar o lavagante apenas alguns minutos. Para que a carne não fique dura. Tem de ser assim. O marisco tem tendência para continuar a cozinhar mesmo depois de o retirarmos da panela. Por isso ou o passamos por água fria ou o retiramos mais cedo ainda. Tudo para que a carne fique no ponto. E nos mostre o porquê de tanta loucura. Se o deixarmos 20 minutos na panela vamos comer borracha. Não pode ser. O sabor dos alimentos no seu melhor ponto de cozedura é realmente  um grande sabor.

Ora ovas!

E depois temos estas ovas. Que eu me confesso um amante. Bastam ser cozidas com o lavagante. E temperadas com um pouco de sal, limão e um fio de azeite. Alguém se encarregou disso e eu acompanhei. Maravilha! São pequenos pedaços redondos de céu.

A Crise. É verdade. Já me tinha esquecido disso. Já devo ter algumas pessoas furiosas por estar para aqui a escrever sobre o lavagante e tal. Claro que houve mais coisas. E uma delas deixou-me bem surpreendido. Um tomate recheado com alheira e pinhões salteados. Vai ao forno ganhar gosto. Ganhar alma. Coisa simples de se fazer e que nos vai deixar felizes no palato. Corta-se uma “tampa” ao tomate e retira-se o interior com cuidado para não furar. Vira-se ao contrário e retiramos dois milímetros no fundo, apenas para tornar o tomate estável no tabuleiro. Uma pitada de sal e um pequeno fio de azeite. Recheia-se com a alheira e os pinhões que juntos passaram na frigideira para ganhar cor. Vai ao forno até o tomate estar bem cozinhado. Et voilá! Mais um sabor dos bons.

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Esta paixão não é só minha. Foi bom ver a alegria com que as pessoas cozinhavam. Senti-me bem lá no meio. Tudo ali respirava ingredientes e técnicas. Aprendia-se ao ritmo do tempo que ia passando devagar e descontraído. O Nuno Diniz é um mestre. Ia orientando o grupo para uma divisão de tarefas que no fim iria compensar. Estava tudo concentrado naquilo que se fazia. Vapor, um copo de bom vinho rosé e boa companhia. Parecia que estava em casa. E estava. O Kiss the Cook tem as condições ideais para que coisas destas aconteçam.

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Diverti-me. Muito. Aprendi mais umas coisas de valor. Como cada vez que estou com o Nuno na cozinha. É uma quase paixão ver este homem a trabalhar. A movimentar-se entre um discurso simpático e uma técnica mais afoita. Ele sabe tornar o complicado em simples. E adora partilhar o que sabe. Parece uma carta de amor, porque já é a segunda vez que falo nele em dois posts diferentes. Mas quando se sente admiração por alguém nunca é demais deixar essas afirmações sairem. E eu pelo Nuno tenho um respeito e amizade enormes. É daqueles cozinheiros que inspiram confiança a quem está perto. Até aos seus alunos da Escola de Hotelaria de Lisboa onde dá aulas. Estão sempre presentes. Sempre perto para teres mais uma dose de conhecimento. Estão sempre perto também para mostrar a paixão que nos une a todos.

IMG_2064-Os Chefs

Isto é para mim uma verdadeira paixão. Sei que tenho tendências a ser lamechas nestas coisas da cozinha. Porque gosto de admitir este meu amor. É incrível como com algum conhecimento e dedicação conseguimos transformar ingredientes em momentos inesquecíveis. Como o palato recorda a nossa vida. Pelos sabores e pelas referências. Comer é viajar. É sentir.

Perguntam pela história do lavagante? Onde está? Pois bem. Está na minha memória. Pela tarde bem passada. Pela companhia e pela diversão que tive ao estar entre amigos. A comida tem destas coisas não é? Quando partilhada sabe sempre melhor. E gostava de ouvir da vossa parte um momento desses, em que a comida e a partilha se fundiram num momento especial. Contem. Deitem a vossa alma cá para fora. Com lavagante ou sem ele. Mesmo que não lhe tenha dado um nome.

5 colheradas em “Um lavagante sem nome.

    • E ficou bom. Não queria falar das receitas em si. Ficam para quem lá esteve. Mas é bom falar do ingrediente principal. Ah! E é bom ter-te por aqui. Alias. É um orgulho! 🙂

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