Não sou o primeiro a insurgir-me contra isto. Nem serei o último. Mas é que realmente não faz sentido nenhum. Já perceberam que falo da maldita faca de peixe. Uma lembrança do passado, que não faz sentido nos dias de hoje. Mas que resiste impunemente aos tempos modernos. Nem quero ir pelo lado da tradição, porque nem por aí tem valor. E eu. Que sou esquerdino à mesa, padeço de um cansaço geral cada vez que vou a um restaurante e me apresentam este talher.

Considerem isto como um grito de quem está farto. Tenho esse direito a explodir. Pode parecer uma coisa simples, mas o raio da faca de peixe nas minhas mãos não serve mesmo para nada. Tem o lado do “corte” no sentido contrário. Se pelo menos houvesse essa faca para esquerdinos, ainda compreendia. Não há. Ou se há não é fácil encontrar. Só os dextros têm sorte. Encontrei uma versão estilizada e elegante, que não tinha lado e que parecia perfeita, mas vendo bem é quase igual a uma faca comum. Por isso para quê perder tempo a usar tal modernice? “Podia trazer-me uma faca normal sefachavor!” é das frases que mais digo quando me preparo para comer um belo de um peixe num qualquer restaurante.

São estes ódios e estes amores que fazem a nossa paixão dentro da gastronomia. Amar e odiar. Sempre de mãos dadas. Sempre lado a lado para nos mostrar que é ao amar assim que nos sentimos felizes. Sei que posso parecer um velho rezingão com esta questão da faca de peixe. Mas é sempre, sempre assim. Os dextros reinam o mundo do talher. Grummppffftt.

Sou esquerdino à mesa. Nunca percebi isso. No dia a dia escrevo e utilizo a mão direita para todas as tarefas normais. Mas quando me sento à mesa troco os talheres. A faca passa para a mão esquerda e o garfo fica mais confortável na mão direita. Deveria ser o contrário. Gosto de ser “especial” e sinceramente nem sei de onde é que vem esta pancada. E aceito que exista mais gente assim.

Daí estar a escrever. Quero saber se mais alguém padece do mesmo mal. Se mais alguém sofre com isto do talher de peixe que não serve para nada nas suas mãos. Criar uma espécie de movimento pela abolição da diabólica faca de peixe. Juntos venceremos! Ou melhor. Comeremos!